Esta não é a primeira vez que o Enem enfrenta problemas desse tipo por suspeitas de vazamento que surgiram no Ceará. Em 2011, estudantes de Fortaleza tiveram de refazer as provas devido ao vazamento de questões. O Ministério da Educação anunciou, em 26 de outubro de 2011, a anulação das notas dos 639 alunos do Colégio Christus, após constatar que apostilas distribuídas pela escola continham dez questões idênticas e uma similar às aplicadas no Enem daquele ano.
Na época, o Inep afirmou que não houve vazamento durante a aplicação das provas, mas acionou a Polícia Federal para investigar como o material do colégio havia obtido acesso aos itens.
A direção do Colégio Christus alegou que as questões estavam em seu banco de exercícios, alimentado por professores, alunos e ex-alunos, e que parte das questões pode ter vindo de estudantes que participaram do pré-teste do Enem em 2010.
Três questões foram anuladas após cearense divulgar questões semelhantes as da prova oficial dias antes da aplicação. — Foto: Érico Andrade/g1
O MEC confirmou a participação de alunos da escola no pré-teste, mas reforçou que nenhum conteúdo dessa etapa poderia ser copiado, reproduzido ou mantido pelas instituições envolvidas, já que o material deveria ser incinerado após a aplicação.
No caso do Enem 2025, Edcley Teixeira afirma ter participado do Prêmio CAPES Talento Universitário — prova opcional aplicada em concurso para estudantes do 1º ano de graduações. Ele teria descoberto que essas perguntas serviriam como “pré-teste” para integrarem futuras edições do Enem. O Inep não confirmou qualquer associação entre esses dois exames.
Ciências da Natureza – questão 87 da prova azul. Em destaque, a mesma questão é vista na apostila distribuída aos alunos — Foto: Reprodução
Julgamento e absolvição
O professor de Física Jahilton José Motta foi denunciado pelo Ministério Público Federal por supostamente repassar 14 questões do Enem 2011 aos alunos do Christus. Segundo o MPF, Motta teria tido acesso aos itens por meio do pré-teste aplicado pela Cesgranrio em 2010. Ele foi condenado em 2013 a seis anos de prisão, mas recorreu em liberdade.
A defesa argumentou que o professor não sabia que o conteúdo tinha origem ilícita, já que o colégio possuía um extenso banco de questões com formato semelhante ao do Enem. O advogado Cândido Albuquerque afirmou que não houve controle adequado sobre os materiais do pré-teste, e que alguns alunos chegaram a levar as provas para casa, o que poderia ter permitido que conteúdos chegassem ao banco do colégio sem que Motta percebesse sua origem.
Outro denunciado pelo MPF, o representante da Cesgranrio responsável pelo pré-teste, também foi investigado sob alegação de “ausência de cuidado necessário” na aplicação das provas, mas a denúncia foi rejeitada pela Justiça.
A própria defesa de Motta questionou a validade jurídica das acusações. O crime de fraude em certame público, por exemplo, só foi tipificado no Código Penal em dezembro de 2011, após os fatos. Já o delito de estelionato não se aplicaria, segundo os advogados, porque não houve tentativa de obtenção de vantagem material.
Em 2016, a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região absolveu Jahilton José Motta e ele foi declarado inocente de todas as acusações. Para os magistrados, não ficou comprovado que o professor tivesse agido com dolo ou ciência da origem das questões.
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