Analberga Silva trabalhava como gerente-administrativa do setor de Recursos Humanos de uma empresa no Brasil. Ao se mudar para Portugal, agarrou a primeira oportunidade que surgiu, numa imobiliária, onde era encarregada de alugar imóveis e entregar a casa limpa para os clientes. Mas encontrar pessoal especializado para fazer o serviço de limpeza não era uma tarefa fácil.
“Eu percebi que tinha muita dificuldade. Eu não encontrava empresas disponíveis. Por exemplo: eu alugava a casa hoje e queria a limpeza amanhã. Queria entregar [a casa] rápido para o cliente porque quanto mais rápido eu entregasse, mais rápido eu ganhava comissão.”
Foi então que Analberga teve a ideia de fazer ela mesma o trabalho com a ajuda de uma amiga. A cearense conta que os clientes que alugavam os imóveis gostavam tanto da qualidade da limpeza que acabavam por contratá-la para terem a casa limpa todas as semanas. A maioria dos clientes era formada por estrangeiros, “e estavam dispostos a pagar bem por esses serviços”, explica.
Quando percebeu, a então corretora de imóveis tinha muitos clientes fixos e um rendimento superior ao que ganhava na imobiliária.
“Eu só ganhava [comissão] cada vez que eu alugava [um imóvel], e isso demorava. Não era todo mês”, esclarece. Foi assim que, em 2018, ela decidiu abrir a Maid to You, uma empresa especializada em limpezas profissionais.
Atenção aos detalhes
No início, todo o trabalho era feito por Analberga e pela amiga, mas com o aumento da demanda, a empresa ganhou mais seis funcionários e também começou a oferecer o serviço de passar roupas a ferro. Atualmente, a Maid to You atende mais de 30 clientes fixos em Lisboa e nas cidades próximas da capital portuguesa. Na lista estão casas, apartamentos, escritórios, clínicas, escolas e condomínios.
Ao falar sobre os fatores que contribuíram para o sucesso do negócio, a empresária diz que “a atenção aos detalhes faz, sim, uma certa diferença, com certeza”. Segundo ela, a disponibilidade dos funcionários para fazerem além do que lhes é pedido e a gentileza também têm cativado os clientes. “É muito nosso isso, muito do brasileiro”.
Segundo ela, os bons resultados da empresa também se devem à formação e ao treinamento que a equipe recebe periodicamente. “É um treinamento diferente”, que, de acordo com Analberga, não se restringe às principais técnicas de limpeza, mas também envolve os comportamentos que regem uma boa conduta profissional no ambiente de trabalho. Se a limpeza é na casa de um cliente, é importante ter “discrição” e “respeito à privacidade”, por exemplo.
Focada em inovação para melhorar a oferta dos serviços, a cearense de Quixeramobim alinhou as limpezas a práticas sustentáveis. As equipes passaram a utilizar equipamentos com alto desempenho e baixo consumo energético, e a usar produtos que causam menos impacto ao meio ambiente. “Produtos menos agressivos, mais sustentáveis, porque os produtos biodegradáveis são comprovadamente menos agressivos do que os convencionais”, esclarece.
Consultorias e formação para imigrantes e refugiados
Com o negócio indo bem, a brasileira começou a dar consultorias a pessoas e empresas que a procuravam porque precisavam aprender ou aperfeiçoar alguma técnica de limpeza. Algumas delas tornaram-se parceiras da empresária. “Se eu for fazer uma limpeza em um prédio inteiro – a limpeza pós-obra – e a minha equipe não for suficiente, faço parceria com a empresa que já fez consultoria comigo”, explica.
Analberga também passou a ser convidada por organizações sem fins lucrativos para dar formações nas áreas de limpeza, mas também para passar e engomar roupas. A última aconteceu em novembro e reuniu mulheres refugiadas e imigrantes, que buscam apoio para a integração em Portugal e capacitação profissional.
As participantes “estagiaram nos meus clientes”, conta. Aprenderam técnicas de limpeza profissional e como empreender na área.
“A ideia é fazer com que elas sejam autônomas e ganhem dinheiro oferecendo serviços de limpeza. Tem uma demanda muito grande aqui em Portugal para esse serviço. Então, tem muito mercado.”
Ao comentar o trabalho nas organizações e a importância do apoio às mulheres refugiadas e imigrantes, Analberga diz que “quis ajudar da forma que pode” por também ser imigrante e ter enfrentado dificuldades quando veio para Portugal.
Para continuar ajudando na inserção profissional de pessoas, a brasileira vai lançar, em fevereiro, um curso on-line de ‘engomadoria’. “É um curso só de passar a ferro. Ou seja, é para quem quer empreender sem gastar muito”, avisa.
E para quem pensa em ter o seu próprio negócio, a cearense de Quixeramobim aconselha. “Acho que é olhar para inovação. Em qualquer área em que você vai empreender, eu acho que é importante olhar para o que está faltando.”