Metanol: fígado vira ‘vilão’ e transforma bebida adulterada em veneno silencioso
O governo brasileiro anunciou neste sábado (5) a compra de dois antídotos, fomepizol e etanol farmacêutico, para reforçar o tratamento de intoxicações por metanol no país.
O número de notificações de intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica subiu para 127 no Brasil, segundo balanço do Ministério da Saúde. São 11 casos confirmados em laboratório.
Quais são os antídotos?
Os antídotos comprados pelo governo brasileiro são o fomepizol e o etanol farmacêutico, que estarão disponíveis nos estoques do SUS até o fim da próxima semana.
Foram adquiridas 12 mil ampolas de etanol farmacêutico e 2,5 mil unidades de fomepizol. O novo lote de etanol vai se somar a 4,3 mil ampolas já entregues aos estoques do SUS em parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
A compra do fomepizol, medicamento específico para esse tipo de intoxicação, teve apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e foi feita de um fabricante no Japão.
A distribuição dos insumos começou neste sábado, atendendo Bahia, Pernambuco, Paraná, Mato Grosso e Distrito Federal.
Quando é feito o tratamento?
Os antídotos são utilizados nos casos de suspeita de intoxicação por metanol associados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas.
O profissional de saúde não precisa aguardar a confirmação do laboratório para aplicar a dose, mas ela deve ser feita sob prescrição. O paciente também deverá ter acompanhamento médico em um ambiente de saúde.
LEIA MAIS:
É seguro beber cerveja, vinho ou chope? Entenda o que considerar antes do consumo para evitar o metanol
Metanol usado na higienização de garrafas é a principal linha de investigação da polícia para intoxicações
Metanol em bebidas alcoólicas: veja o que se sabe até agora sobre casos de intoxicação
Infográfico explica ação dos antídotos em casos de intoxicação por metanol
Arte/g1
O que é o fomepizol
O fomepizol pertence à classe dos inibidores da álcool desidrogenase (ADH), enzima do fígado responsável por metabolizar tanto o etanol quanto o metanol. No caso do metanol, esse metabolismo é perigoso porque gera compostos altamente tóxicos — como o formaldeído e o ácido fórmico.
Quando o paciente recebe fomepizol, a droga bloqueia a ADH e interrompe essa transformação nociva. O metanol circula “intacto” no organismo, sem virar veneno, e pode ser eliminado naturalmente ou com ajuda da hemodiálise.
A hepatologista Natália Trevizoli, do Hospital Sírio-Libanês, explica, quando administrado cedo, o fomepizol impede a formação de ácido fórmico, protegendo olhos, cérebro e fígado, reduzindo o risco de sequelas irreversíveis.
Etanol farmacêutico é alternativa
Na ausência do fomepizol, hospitais recorrem ao etanol grau farmacêutico como alternativa. O princípio é semelhante: o etanol também disputa a mesma enzima (ADH) e retarda o metabolismo do metanol, evitando que o quadro evolua, segundo a hepatologista do Hospital Nove de Julho Lisa Saud.
Natália Trevizoli reforça que tanto o fomepizol quanto o etanol funcionam como “bloqueadores” da ADH, mas o primeiro é mais “preciso, seguro e rápido”. “O etanol, em excesso, também intoxica o organismo”, alerta.
Ministério da Saúde anuncia compra de 2,5 mil tratamentos contra ingestão de metanol
Ministério da Saúde recebe 41 notificações de intoxicação por metanol; 37 delas em São Paulo
Reprodução/TV Globo
Alertas pelo Brasil
Os alertas começaram em São Paulo, em meados de setembro, onde a maioria dos pacientes foi atendida após consumir bebidas adulteradas. Pernambuco, Recife e Distrito Federal também notificaram casos suspeitos, incluindo mortes em investigação.
Diante desse cenário, o Ministério da Saúde instalou uma Sala de Situação para acompanhar a evolução dos registros e coordenar ações com estados e municípios. Até que o fomepizol seja disponibilizado, médicos seguem recorrendo à hemodiálise e ao etanol farmacêutico nos centros especializados.
Entenda como funcionam os antídotos contra metanol comprados pelo governo brasileiro
