
Leandro Lima vai parar em hospital após ingerir gasolina sem querer
O ator Leandro Lima, de 43 anos, assustou os seguidores ao aparecer em um hospital nesta segunda-feira (10). Ele contou nas redes sociais que ingeriu gasolina por acidente, enquanto tentava transferir combustível da moto para o carro usando uma mangueira. “Puxei e acabei engasgando com a gasolina”, relatou.
Casos como esse são mais frequentes do que se imagina –e podem ser graves. Mesmo pequenas quantidades do combustível podem provocar inflamação pulmonar, confusão mental, vômitos, arritmia e, em situações extremas, parada cardiorrespiratória, segundo médicos ouvidos pelo g1.
Ator paraibano Leandro Lima vai parar em hospital estar após ingerir gasolina sem querer
Reprodução/Instagram/@leandrolimale
O caminho do perigo
A gasolina é uma mistura complexa de hidrocarbonetos, etanol e aditivos anticorrosivos. Essas substâncias têm grande afinidade com gordura –e, por isso, aderem facilmente às membranas celulares das mucosas e dos pulmões. Assim que entra em contato com o corpo, o líquido queima, irrita e inflama os tecidos.
No momento em que a pessoa suga o combustível e engasga, a reação é instintiva: tossir, cuspir, tentar respirar. E é nesse reflexo que está o risco maior.
“Quando a gasolina entra pelas vias respiratórias, ela alcança os bronquíolos e os alvéolos –as bolsinhas microscópicas onde o oxigênio entra no sangue. O combustível dissolve a camada de surfactante, uma substância essencial que mantém esses alvéolos abertos”, explica o pneumologista do Hospital de Messejana, no Ceará, Ernando Sousa.
Sem o surfactante, os alvéolos colapsam. O ar deixa de circular normalmente, e o corpo começa a sentir falta de oxigênio. É o início da pneumonite química, inflamação que pode evoluir rapidamente para insuficiência respiratória.
Nas primeiras horas, o paciente sente ardor na garganta, tosse, dor no peito e uma sensação de que o ar “não entra direito”. A pele pode ficar pálida, os lábios arroxeados e o batimento cardíaco, acelerado.
O corpo reage em cadeia
Enquanto os pulmões lutam para retomar o equilíbrio, outras áreas do corpo também sofrem.
“O cérebro é o primeiro órgão a perceber a queda na oxigenação. Vêm a tontura, a sonolência e, em casos mais graves, confusão mental ou perda de consciência”, explica Delbton Fernandes de Araújo Reis, coordenador do pronto-socorro do Hospital Carlos Chagas.
A escassez de oxigênio no sangue –chamada de hipóxia– tem um efeito dominó. O coração tenta compensar, acelerando o ritmo. Mas os hidrocarbonetos também interferem na condução elétrica cardíaca, o que pode gerar arritmias perigosas e, em situações extremas, parada cardiorrespiratória.
Ao mesmo tempo, o sistema digestivo tenta eliminar o que foi engolido. O contato direto com o estômago e o esôfago causa ardência intensa, náuseas e vômitos. E, se o vômito ocorre, o risco de aspirar o líquido e levá-lo novamente aos pulmões aumenta ainda mais.
Múltiplas portas de entrada
Mesmo sem engolir o combustível, apenas inalar o vapor em ambientes fechados pode causar intoxicação leve –com dor de cabeça, tontura e sonolência. A gasolina evapora rapidamente e libera gases que atravessam as membranas respiratórias.
“Na via inalatória, o perigo é silencioso. O cheiro forte já indica que partículas estão entrando no sistema respiratório. A pessoa pode desmaiar ou sentir falta de ar em minutos”, diz Delbton.
O contato direto com a pele e os olhos também é tóxico. O combustível remove a gordura natural da pele, deixando-a seca, irritada e avermelhada. Nos olhos, causa vermelhidão, ardência e inchaço, resultado da ação corrosiva dos hidrocarbonetos.
Sintomas e tempo de evolução
A evolução dos sintomas depende da quantidade ingerida e da forma de exposição, mas costuma ser rápida.
Em minutos, surgem tosse, náusea, tontura e irritação na garganta.
Em até seis horas, pode aparecer febre baixa, sinal de inflamação pulmonar.
Em casos mais severos, a falta de ar evolui e o paciente precisa de oxigênio ou intubação.
“A pessoa deve ir ao hospital imediatamente, mesmo que se sinta bem. A piora respiratória pode vir depois. O erro é esperar para ver se passa”, alerta Ernando Sousa.
O que fazer (e o que jamais fazer)
O primeiro passo é se afastar do local contaminado e retirar roupas com gasolina. A boca deve ser enxaguada com água, sem engolir.
Nunca se deve tentar “neutralizar” a substância com leite, água ou remédios caseiros.
“Não se deve provocar o vômito. Isso só aumenta o risco de o combustível voltar aos pulmões”, diz Delbton.
A orientação é ir direto ao pronto-socorro ou ligar para o SAMU (192). Quanto antes o atendimento é iniciado, menor o risco de complicações.
O que é feito no hospital
No pronto-socorro, o paciente é avaliado na sala de emergência. Os profissionais monitoram a respiração e os batimentos cardíacos, fazem exames laboratoriais e radiografia de tórax para identificar inflamação.
“Se a saturação cai, damos oxigênio e, em alguns casos, nebulizações broncodilatadoras. Quando há sinais de pneumonite, o paciente fica internado sob observação. Casos graves exigem intubação”, explica o pneumologista.
Não há antídoto específico. O tratamento é de suporte respiratório e clínico –controlar a inflamação, hidratar o paciente e garantir oxigenação adequada. A lavagem gástrica não é indicada, porque pode aumentar o risco de aspiração.
Em casos leves, a observação dura de 6 a 12 horas; em quadros moderados ou graves, até 48 horas em UTI.
Prática é comum e antiga
O que Leandro Lima fez — transferir combustível com uma mangueira, sugando para criar pressão — é uma prática antiga e ainda muito comum em oficinas e garagens.
O método, conhecido popularmente como “puxar gasolina”, serve para fazer o líquido passar de um tanque a outro usando a força do vácuo. Mas o simples ato de levar a mangueira à boca transforma o processo em uma armadilha.
Ao sugar o ar, a pessoa cria um fluxo que puxa o combustível. Se o líquido sobe mais rápido do que o esperado, ele atinge a boca e a garganta.
“Mesmo cuspindo rápido, pequenas quantidades podem ser engolidas ou inaladas — e isso já basta para irritar as vias respiratórias e causar inflamação”, explica Ernando Sousa, pneumologista do Hospital de Messejana (CE).
Além da sucção manual, outros acidentes acontecem em situações domésticas e improvisos perigosos: transferir gasolina com garrafas, armazenar o líquido em recipientes plásticos (como garrafas PET, que podem ser confundidas com bebidas) e inalar vapores em locais fechados ou mal ventilados.
“A inalação prolongada é um risco silencioso. O cheiro forte já significa que partículas químicas estão entrando no organismo. Todo cuidado é pouco quando se trata de combustíveis”, alerta o pneumologista.











