O jovem tinha 16 anos e foi assassinado “com extrema violência e tortura” por “tribunal do crime”, diz o MP. A denúncia e a representação, ajuizadas nesta quinta-feira (7), apontam que o crime foi motivado por rivalidade entre facções criminosas. O MP pede a condenação dos adultos e a internação dos adolescentes.
Antes de ser morto em Jericoacoara, turista fez fotos com gestos sem saber que era símbolo de uma facção criminosa atuante no Ceará. — Foto: Arquivo pessoal
A denúncia foi oferecida contra os adultos Anderson Silva Veras (“Gota”), Antônio Carlos Paulino de Almeida (“Pantanal” ou “CL”), Francisco Erlânio Freitas dos Santos (“Dasarea”) e Alex Gomes da Costa (“Pezão”, que deu a ordem para a execução).
Ainda de acordo com o MP, eles responderão por homicídio qualificado, com as qualificadoras de: motivo torpe, meio cruel, tortura e impossibilidade de defesa da vítima, ocultação de cadáver e organização criminosa. Há também um agravante por envolvimento de menores de 18 anos.
Os adolescentes foram representados por atos infracionais análogos aos crimes de homicídio, com as mesmas qualificadoras: ocultação de cadáver e organização criminosa.
O que acontece agora?
Após uma denúncia do Ministério Público, o juiz avalia e decide se a recebe ou a rejeita. Se a receber, o denunciado se torna réu e o processo tem início. Nesse momento, a pessoa precisa contratar um advogado ou acionar a Defensoria Pública para defendê-la.
Turista desaparecido em Jericoacoara é visto por imagem de câmera sendo imobilizado por vários homens — Foto: Reprodução
Entenda a dinâmica do crime
Turista de 16 anos é encontrado morto em Jericoacoara
Em 16 de dezembro de 2024, por volta de 23h, Henrique Marques, jovem de 16 anos natural de São Paulo, foi abordado por usar uma camiseta com símbolos interpretados como referência a uma facção criminosa rival a dos agressores. A abordagem ocorreu na Praia da Malhada, em Jijoca de Jericoacoara.
De acordo com a denúncia do MP, Henrique teria se recusado a retirar a peça de roupa, e teve o celular confiscado:
“No aparelho foram encontradas imagens e mensagens que reforçaram a suspeita de vínculo com organização criminosa rival. A vítima foi agredida com extrema violência – socos, chutes, golpes com paus e pedras, disparos de arma de fogo na cabeça e mutilação da orelha – e não teve chance de defesa. Henrique passou por um ”Tribunal do Crime'”, explicou o MP.
➡️ Entenda: A prática criminosa conhecida como “tribunal do crime” ocorre quando membros de uma facção sequestram, torturam e interrogam indivíduos, que eles, muitas vezes, suspeitam serem membros de um grupo rival. Em vários casos, as vítimas são condenadas à morte por chefes das facções.
Turista morto em Jericoacoara usava camisa com símbolo que representava facção rival a dos suspeitos do crime. — Foto: Reprodução
A autorização para execução de Henrique partiu de um detento do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão, por celular. Após o homicídio, o corpo foi transportado em um quadriciclo e ocultado na Lagoa do Paraíso.
Imagens da vítima foram compartilhadas com visualização única em um grupo de WhatsApp denominado “Transfer Jeri Fortaleza”, utilizado pelo grupo para articular crimes.
Imagens das câmeras de videomonitoramento de um supermercado registraram o momento em que Henrique foi sequestrado, e também os agressores. O grupo responsável pela morte do turista se intitulava “Tropa do Pezão”
Três detidos pelo crime
Os três detidos foram encaminhados à Delegacia Regional de Acaraú, onde permanecem à disposição da Justiça.
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