Após a fala, Gerson Glaydson Honorato da Silva, presidente do Instituto Carta Magna de Umbanda, realizou um boletim de ocorrência contra o prefeito. Em nota, Aristeu disse que a fala dele foi “mal interpretada” (veja abaixo o posicionamento do prefeito na íntegra).
Na denúncia, Pai Gerson disse que a “fala do prefeito ofende todos os povos de terreiro do Estado do Ceará”. Ele manifestou repúdio e pediu providências em relação ao caso, que considerou como “crime de intolerância religiosa”.
No Brasil, intolerância religiosa é crime previsto no artigo 208 do Código Penal. A infração penal prevê pena de um mês a um ano ou multa, a qualquer pessoa que publicamente, por motivo de crença ou função religiosa, impeça ou perturbe as cerimônias ou prática de culto religioso e despreze publicamente ato ou objeto de culto religioso alheio.
A Polícia Civil disse que investiga um caso de crime contra o sentimento religioso. O boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia de Repressão aos Crimes por Discriminação (Decrim) e será transferido para a Delegacia de Nova Russas, unidade policial responsável por investigar os crimes da região.
Já o Ministério Público do Ceará confirmou que instaurou procedimento, nesta quinta-feira (2), para apurar possível prática de intolerância religiosa cometida pelo prefeito de Ararendá. A apuração é conduzida pela Promotoria de Justiça Vinculada de Ararendá, que vai oficiar o prefeito para que, no prazo de 10 dias, preste os devidos esclarecimentos ao MP sobre as declarações prestadas para elucidação do caso e adoção das eventuais providências cabíveis.
Pai Gerson denuncia prefeito de Ararendá após discurso com fala preconceituosa no Ceará.
Confira posicionamento do prefeito Aristeu Eduardo na íntegra
“Venho a público esclarecer o episódio envolvendo minha fala recente, que, infelizmente, acabou sendo mal interpretada. Quero deixar claro que em nenhum momento fiz referência negativa ou crítica a qualquer religião ou prática de fé.
Tenho profundo respeito por todas as tradições religiosas, inclusive as de matriz africana, que representam parte essencial da história, da cultura e da identidade do nosso povo. A diversidade de crenças é um patrimônio do Brasil e de Ararendá, e deve sempre ser valorizada e protegida.
Minha manifestação foi um desabafo inevitável diante da perversidade de uma campanha caluniosa e rasteira, alimentada por denúncias infundadas e desprovidas de qualquer senso de honradez.
Os ataques covardes não se limitaram à minha pessoa, mas, de maneira ainda mais cruel, alcançaram minha esposa e minha família. Não há disputa política que justifique tamanha baixeza contra um homem honrado, com vida pública e privada irretocáveis.
Venho a público esclarecer o episódio envolvendo minha fala recente, que, infelizmente, acabou sendo mal interpretada. Quero deixar claro que em nenhum momento fiz referência negativa ou crítica a qualquer religião ou prática de fé.
Tenho profundo respeito por todas as tradições religiosas, inclusive as de matriz africana, que representam parte essencial da história, da cultura e da identidade do nosso povo. A diversidade de crenças é um patrimônio do Brasil e de Ararendá, e deve sempre ser valorizada e protegida.”
Discurso em inauguração
Prefeito causou polêmica ao criticar religiões de matriz africana em discurso no Ceará: ‘Se ofenda quem quiser se ofender’. — Foto: Reprodução
A fala aconteceu durante discurso em uma inauguração de uma praça do município nesta terça-feira (30). “Esse povo se passa de ‘bem’ de manhã, na frente da sociedade e, à noite, vai bater tambor nos terreiros de macumba. Então, fiquemos atentos, pessoal”, disse o prefeito durante o discurso.
Na fala, Aristeu estava rebatendo uma pessoa da oposição à gestão municipal dele. A mulher tem dois filhos, que o prefeito criticou por serem “pagãos” — ou seja, não seguem o cristianismo.
“Isso está nas escrituras que conhecemos que ficaram escritas para dar o norte para a sociedade. Se ofenda quem quiser se ofender, mas nós somos seguidores de Cristo. É nele que eu acredito, e é nele que eu sigo até o final da minha vida. Então, eu fico preocupado”, adicionou o prefeito.
“Eu tenho dever, como cidadão, como cristão, como líder político, como prefeito de alertar a sociedade para esse tipo de gente que prega valores que eles não seguem”, complementou.